Capa "Muito longe de casa" |
Autor:
Ishmael Beah
Origem:
EUA
EUA
Tradução:
Cecilia Gianetti
Cecilia Gianetti
Editora:
Ediouro
Ediouro
Ano:
2007
Não há como negar que este livro conta uma realidade muito
triste, mas ele não entrou nos meus Tops. Apesar de a história ser muito triste
e comovente, penso que o autor não é um “ilustre” escritor. Seu modo rápido e
emocionalmente pouco detalhista não me agradou muito... Esta história tinha
tudo para ser um Best-seller mundial que ficaria na memória das pessoas, mas
faltou um pouco na escrita. Mesmo assim, este livro deveria passar pela
cabeceira de muita gente, principalmente na de pessoas que só reclamam da
própria vida, dizendo o quanto ela é ruim. Se você é assim, leia este livro e
veja o que é uma vida ruim.
O autor, Ishmael Beah, começa a história a partir do momento
em que sua pequena aldeia foi atacada por rebeldes. Ele, seu irmão e um amigo
viajavam para outra aldeia no momento do ataque, por isso acabaram se perdendo
dos pais logo no início da sua longa fuga. Eles então partiram em uma arriscada
viagem pelas pequenas vilas e aldeias de Serra Leoa, com a esperança de
encontrar os amigos e familiares sobreviventes do ataque de sua aldeia, mas
principalmente de sobreviver à guerra civil que assola seu país.
A viagem reservou fome, sede, exaustão e perigo para os
meninos, mas reservou também a separação e dor. Durante a parada em uma das
aldeias, os rebeldes novamente os atacaram e Beah viu-se separado dos outros.
Aquela foi a última vez que vira seu irmão. Sozinho, ele tentará que continuar
a viagem contando com a própria sorte à procura de sua família e tentando se
salvar dos conflitos.
Esta parte da fuga que parece nunca ter fim é uma prova do
quanto uma pessoa pode ser forte e persistente. Um menino conseguiu andar por
quilômetros e mais quilômetros movido apenas por sua vontade de encontrar a
família e de sobreviver, sem comida, água ou um teto. Isto sim é determinação.
Bem, eu não gostaria de entregar toda a história, mas
preciso prepará-los para o que os espera: Beah, em determinado momento, será
capturado pelo exército de Serra Leoa e tornar-se-á um soldado. Passará por uma
“lavagem cerebral”, será um viciado em drogas, assassinará civis e destruirá vilas
inteiras. Perderá complemente a noção do que é ser um humano, perderá seus
objetivos, sua infância e seus sonhos. Virará apenas uma máquina de matar
drogada. Esta parte é a mais chocante, pois mostra uma realidade que todos
ignoram. Crianças carregam AK -47 e G3 como se fossem brinquedos, descarregam
em outras crianças igualmente destituídas de sua inocência em uma guerra que
lhes tirou os pais e irmãos. Neste trecho, fiquei com uma sensação terrível no
peito... O que aconteceu com o mundo?
Beah e outros jovens soldados permaneceram nesta vida até
ser salvo por uma ONG. Será uma fase difícil para estes jovens salvos, graças à
abstinência e aos “valores” ganhos durante os conflitos. Revoltas, ódio, agonia
e dor serão o novo cotidiano deles, até que finalmente possam olhar para trás e
verem no que haviam se transformado.
Ishmael Beah e sua mãe adotiva, Laura Simms |
Como eu já disse, todos ignoram o que se passa nestes países
pobres presos em eternas guerras civis. Ignoram esta matança, esta destruição,
esta pobreza, esta miséria... Quem olha (bem de longe) para estes lugares e
para as pessoas que vivem neles, pensa: “Como podem viver assim?”. Eu não sei
como é possível, mas eles conseguem, porque esta é a realidade e eles nunca
conheceram outra. Beah trará isto no livro e não há como não ficar chocado,
emocionado ou entristecido com estes fatos deprimentes. Fará você pensar em sua
vida e dizer: “Nunca mais reclamarei. As crianças de Serra Leoa estão bem
piores, mas continuam lutando”. Se a narração fosse um pouco menos veloz e um
pouco mais detalhada, este seria “O” livro.
Mas, mesmo não entrando nos Tops, eu recomendo este livro. A
história é... Bem, ela é linda e horrível ao mesmo tempo. Ela acrescenta... “Coisas”
à sua alma... É um pouco difícil de explicar. Somente quem leu, entenderá.